Lições Perdidas e a Busca por um Livro Esquecido

Costumava fingir que era apaixonado pela vida. Até junho de 2024. Então, a ficha caiu, os propósitos desapareceram, e o pior: descobri que não sabia onde estavam os sete livros físicos que mais gostei de ler sobre a natureza humana. Entre eles, colecções de Osho, romances de Dan Brown e Paulo Coelho, um título de Augusto Cury e, o mais intrigante de todos, As 48 Leis do Poder, de Robert Greene.

Li esse livro poucas vezes, anotei algumas reflexões, mas não faço ideia de onde ou com quem ele ficou. Nem lembro as circunstâncias do seu desaparecimento. Se alguém o tiver, agradeceria a devolução. Comprar outro? Faria, mas já não compro livros – falta de dinheiro e viagens a Maputo me impedem. Triste.

Ao vasculhar algumas coisas, encontrei sete anotações que havia feito. Eram lições que pretendia colecionar e, futuramente, ver no que iam dar. Foram registadas em duas leituras e, dependendo do nível de compreensão de cada um, podem ser extraídas do livro ao folheá-lo com atenção:

1. Nunca Ofusque o Mestre (Lei 1) – Dê crédito a quem está acima de você. Nunca faça com que seu superior se sinta ameaçado ou menosprezado. Acho que essa lição sublinha a importância de reconhecer hierarquias e evitar confrontos desnecessários. 

No meu caso, falhei em não identificar meus mestres e em acreditar que todos ao meu redor mereciam justiça e bem-estar – algo que, muitas vezes, não condiz com aqueles que ocupam posições de poder em Moçambique, onde corrupção - subornos e outras acções antiéticas fazem parte dos modelos de negócio, progressão e crescimento/sucessos nas carreiras profissionais. 

2. Concentre Sua Força (Lei 23) – Melhor consolidar o poder em uma área de força real do que dispersá-lo. A especialização e a concentração de recursos fazem diferença. Tenho uma aparência que não convence se não abrir a boca para falar, mas, segundo Greene, o foco é mais valioso do que tentativas dispersas de mostrar esforço.

3. Faça Seus Inimigos se Tornarem Amigos (Lei 2) – Transformar adversários em aliados pode ser mais estratégico do que manter conflitos. Anotei essa lição, mas queria revê-la para entender melhor como aplicá-la. Pois os meus maiores inimigos são elogios de pessoas que não são falsas nem verdadeiras. 

4. Jogue com os Desejos dos Outros (Lei 27) – Teria usado essa estratégia para sobreviver em um ambiente institucional desestruturado, onde valores básicos estão em queda. Entender e manipular as vontades das pessoas ao redor pode ajudar no controlo de situações e relações. É uma lição sobre a psicologia do poder e a manipulação estratégica – nem sempre de forma negativa.

5. Acção e Inacção (Lei 30) – Saber quando agir e quando se abster é crucial. Às vezes, a inacção pode ser tão poderosa quanto a acção, especialmente se faz os outros se revelarem primeiro. Costumo dizer: quem trabalha, falha e até atrapalha; quem não faz nada, não erra e, por isso, é promovido, pois tem ficha limpa.

6. Planeie Todos os Detalhes de Avanço (Lei 29) – Sucesso vem de planeamento meticuloso. Melhor antecipar problemas do que reagir impulsivamente. Naturalmente os calculistas são mais visionários e engenhosos. 

7. Aparências Importam (Lei 44) – A percepção dos outros pode ser mais importante do que a realidade. Como você é visto afecta sua influência e suas oportunidades. Essa lição enfatiza a gestão de imagem e a criação de uma aura de poder.

A sensação de ler um livro físico é diferente da leitura digital. Essas lições, embora derivadas de um livro focado em estratégias de poder, podem ser aplicadas em várias áreas da vida – desde relações interpessoais até a gestão de carreira. Mas sempre com consciência das implicações éticas e morais.

Por fim, se alguém encontrar o livro, que me devolva. Meu nome estava assinado nas primeiras páginas. A leitura tem me acompanhado nos momentos em que não há com quem conversar ou o que assistir. Para os curiosos, o livro pode ser adquirido na Amazon.



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