Entre a Revolta Popular e a Inércia das Elites
Entre a Revolta Popular e a Inércia das Elites
Em meio à actual turbulência social e política que sacode Moçambique, a voz do povo ecoa nas ruas enquanto as elites acadêmicas debatem em conferências. Durante uma abordagem reflexiva do Dr. Abdul Carimo, questionava-se como o sistema jurídico moçambicano, tão robusto na teoria, falhou em legislar com justiça e responder às necessidades do país. Paralelamente, o debate nas redes sociais expunha as contradições e hipocrisias das classes intelectuais e políticas.
A Inércia dos Intelectuais
Os intelectuais, outrora acomodados nos privilégios proporcionados pelo regime da FRELIMO, agora assistem, perplexos, às manifestações populares. Durante décadas, foram cúmplices silenciosos de um sistema que perpetuava desigualdades, optando por criticar nos bastidores enquanto desfrutavam dos benefícios de sua proximidade com o poder.
Hoje, veem-se deslocados, tentando assumir o protagonismo de uma revolução que, ironicamente, desprezaram e rotularam de arruaça.
Enquanto a população enfrenta carências básicas – educação, moradia, saúde e dignidade –, os intelectuais preferem discutir em salões climatizados, regados a vinho, ignorando o sofrimento de bairros como Mafalala, Hulene e Maxaquene, onde os esgotos a céu aberto e as condições insalubres são a realidade cotidiana.
Agora que o povo tomou as ruas, os intelectuais se apressam a condenar os "vândalos", tentando redirecionar a luta para um ambiente que lhes seja mais confortável e controlado. Assim observou a poeta Álvaro Fausto.
O Povo e as Multinacionais
Em Moma, distrito de Nampula, um grupo de jovens indignados exigiu que a mineradora Kenmare cumprisse promessas básicas feitas há mais de uma década. Esse movimento reflecte a crescente insatisfação com os contratos mal negociados entre o governo e multinacionais, que exploram recursos enquanto as comunidades locais lidam com graves consequências ambientais e sociais.
Esse despertar popular não é isolado; é um manifesto crescente por justiça e igualdade que o povo de Moatize ainda tomba tentando reivindicar esse trelo antes com a Vale e agora com a Vulcan. Tal como noutras província acontece, mas sempre reprimesse essa vontade do bem-estar comum em detrimento dos camaradas.
O contraste entre o sofrimento das comunidades afectadas pela exploração de recursos e o luxo desfrutado pelos dirigentes revela um Estado que falhou em renegociar contratos e priorizar o bem-estar colectivo. Apesar disso, a proposta de um governo de união nacional em dezembro de 2024 surge como uma solução, ainda que tardia, para um cenário de injustiça e caos. Isso é parte das manifestações pacíficas que escalam para violência.
A Questão da Defesa e Segurança
Outro aspecto revelador da crise é a fragilidade das Forças Armadas e da Polícia na resposta a questões estratégicas, como a fiscalização de drones e objectos voadores não identificados. Com equipamentos limitados e foco desviado para o controlo interno da população, esses órgãos deixam de enfrentar desafios maiores, como o tráfico de drogas e armas, que poderiam gerar receitas significativas para o Estado. Contudo, a cumplicidade com práticas ilícitas e interesses políticos impede qualquer progresso significativo nessa área.
...Enfim...
O cenário em Moçambique exige mais do que discursos e reuniões elitistas e televisonadas depois com desvios de interpretação. A crise actual é um reflexo de décadas de má gestão, corrupção e negligência. A saída para o impasse não será encontrada em salas de conferências, mas no reconhecimento da soberania popular e na construção de um governo que atenda às necessidades de todos os moçambicanos.
Que o movimento popular de 2024 seja o início de uma consciência coletiva que conduza à paz, à justiça e à verdadeira mudança.
Saudações!
Por: Lino Tebulo, Matola-Rio, Moçambique.
Comentários
Enviar um comentário