Será Maputo o Novo Epicentro da Resistência Política em Moçambique

"Quando Isso Tudo Acabar Bem ou Mal, na Mesma, Devemos Muito aos do Sul" 

Quando a Periferia se Torna Vanguarda

Por Lino TEBULO

Publicado em [02.12.2024]

Moçambique vive um momento político singular. As ruas de Maputo, capital localizada no sul do país, transformaram-se no mais eloquente palco de contestação política, desafiando narrativas históricas estabelecidas e reescrevendo os contornos da resistência nacional.

A Geografia Mutável da Resistência

Historicamente, a luta pela independência de Moçambique teve seu berço no norte do país. Regiões como Cabo Delgado, Niassa e Zambézia protagonizaram os movimentos de libertação contra o colonialismo português. A Frelimo, liderada por Eduardo Mondlane, emergia dessas terras setentrionais como força revolucionária.

Hoje, paradoxalmente, o sul - e especificamente Maputo, habitada maioritariamente por changanas (ou machanganas) - assume o papel de vanguarda. Não mais como espectadores, mas como principais articuladores de uma nova agenda de transformação política.

Ou melhor, há notas de reportagem ainda conservadas que mostram que moçambicanos naquela província sempre se revelarão aos actos que não concordam com o governo. Nos anos idos, vimos muitos protestos contra a subida de preços até aos outros condimentos que fazem parte do bem-estar social. Que por sinal, Venâncio Mondlane como activista políticos sempre empenhou-se a lutar ao lado das massas.

Venâncio Mondlane: Continuidade e Ruptura

A liderança de Venâncio Mondlane nos actuais protestos pós-eleitorais não é um evento isolado. Seu sobrenome, que ecoa o histórico líder Eduardo Mondlane, simboliza uma continuidade geracional de resistência. Os protestos transcendem uma mera contestação imediata; representam uma genealogia de demandas por representatividade e justiça.

Aquilo que no olhar de alguns intusiastas em matérias afins diriam que é o gatilho do despertar da consciência crítica e colectiva dos moçambicanos. Apesar de ser o fim do comodismo de uma elite minoritárias, que sempre teve o controlo da massa moçambicana através de narrativas e o medo. Venâncio Mondlane rompe esse fio e alicerça a esperança dos que se sentem oprimidos pelas suas acções e eloquência acertada. 

Changanas: De Marginalizados a Protagonistas

Os machanganas, grupo étnico historicamente à margem dos principais processos políticos nacionais, ressignificam seu papel. Se antes eram coadjuvantes na narrativa da libertação, hoje se colocam como protagonistas de uma luta por democratização e transformação sistêmica.

Além da Geografia: Uma Revolução em Movimento

O deslocamento geográfico da resistência - da antiga ilha de Moçambique para Maputo, do norte para o sul - demonstra que os processos políticos são dinâmicos e não aprisionados em territorialidades fixas. A etnia e a região deixam de ser determinantes absolutas e se tornam catalisadoras de movimentos mais amplos.

Implicações para o Futuro

Os atuais movimentos liderados a partir de Maputo não representam apenas uma fragmentação regional, mas uma profunda ressignificação do pacto político nacional. É a demonstração de que a transformação social não tem endereço fixo, mas pulsa onde a injustiça encontra resistência.

Conclusão

Moçambique nos ensina, mais uma vez, que a história não é um território estático, mas um campo de possibilidades em permanente reconstituição. Maputo, hoje, é mais do que uma capital: é o epicentro de uma revolução que se faz com coragem, persistência e a convicção de que a mudança é possível.

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Notas do Autor:  

Este artigo é um convite à reflexão sobre os processos políticos contemporâneos em Moçambique, reconhecendo a complexidade e a riqueza das dinâmicas de resistência em nosso tempo.

Lino TEBULO
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