MOÇAMBIQUE E O PATRIOTISMO PERDIDO

Reflexões sobre o Culto à Figura e o Esvaziamento dos Símbolos Nacionais

Não sei em que ponto da nossa história nos tornámos insignificantes aos olhos do mundo e superficiais entre nós próprios, cegos pela nossa idolatria desmedida. Será que nos demos conta de que, em matéria de patriotismo, estamos mortos ou simplesmente omissos? O termo "amor à pátria" parece ter-se esvaziado, reduzido a palavras ocas, proferidas apenas em discursos quando já não há mais nada a dizer — apenas para preencher tempo e mascarar a irrelevância ou desnecessidade da presença em comícios, sessões, reuniões e encontros entre dirigentes e povo, ou entre superiores e subordinados.

O patriotismo foi subtil e silenciosamente substituído por um materialismo profundo, mas disfarçado. Hoje, os símbolos nacionais — a bandeira, o hino, o emblema — perderam o seu valor intrínseco. O respeito e o crédito outrora atribuídos a esses símbolos passaram para a figura do dirigente máximo, para empresários ou para qualquer indivíduo com poder económico ou político. Até mesmo o professor e o médico, pilares de qualquer sociedade, passaram a valer menos do que um político ou um líder religioso qualquer.

Esta inversão de valores resulta, em grande parte, da decadência da nossa formação moral e cívica. A maioria dos moçambicanos não compreende verdadeiramente o significado da bandeira ou do hino nacional. Alguns até podem saber a letra ou conhecer o simbolismo das cores, mas poucos são capazes de expressar o que aquele pano representa, o que aquela melodia solene nos diz enquanto povo — sem associá-los à figura do presidente ou de qualquer dirigente em exercício.

Hoje, ovacionamos figuras partidárias, endeusando-as ao ponto de o nome de Deus soar menor diante delas. Fazemo-lo mesmo sabendo que essas figuras podem, num estalar de dedos, deixar de ter qualquer relevância. Mas enquanto vestidas de poder e autoridade, idolatramos essas pessoas, convencidos de que podem beneficiar os nossos estatutos, cargos ou posições.

O que se perde com isso? Perde-se algo de muito valioso: a consciência do compromisso real com a causa nacional. A "Chama da Unidade", por exemplo, não faz sentido se não soubermos honrar com rigor os nossos símbolos nacionais. Os presidentes e os governos mudam, mas a bandeira, o hino e o estandarte permanecem. E, por trás deles, existe um povo, uma história e uma lei que nos obriga a respeitá-los.

A falta de respeito por esses símbolos reflete um desapego perigoso aos compromissos profundos que cada cidadão deve ter com o seu território. Sim, honrá-los é um fardo, mas é um fardo nobre — uma responsabilidade que mostra dignidade e integridade. Curvar-se diante da bandeira, manter-se ereto ao som do hino, prestar vénia ao emblema — tudo isso são actos simbólicos de grande valor patriótico.

Hoje, porém, ignoramos o hino nacional quando o ouvimos soar, tratamo-lo como música qualquer. Não sabemos sequer entoá-lo por inteiro, mesmo ostentando cargos políticos relevantes. Mas ovacionar políticos e bajulá-los — aí estamos prontos. Somos capazes de passar fome só para contribuir para as recepções e homenagens dessas figuras. Que inútil nos tornámos enquanto povo na construção de um país melhor!

É por isso que qualquer um vem a Moçambique e nos despreza. Porque não temos identidade sólida, nem construímos uma narrativa nacional capaz de superar os estereótipos que nos rotulam como ignorantes, atrasados ou indignos de compaixão diante dos roubos e abusos de que somos vítimas.

Fico por aqui, triste com esta realidade. Mas, ao mesmo tempo, mantenho viva a esperança e a satisfação de preservar o saber que guiou grandes povos — povos que construíram nações fortes e colocaram a pátria acima de interesses individuais. Nesses povos, os símbolos nacionais confundem-se com o sagrado. E os seus dirigentes são, acima de tudo, homens e mulheres comprometidos com o bem-estar do povo. Mesmo vivendo em terras pobres em recursos, essas nações acumulam riquezas inestimáveis por saberem priorizar e preservar os valores certos.

Reflexões sobre o Culto à Figura e o Esvaziamento dos Símbolos Nacionais

Por: Paulino Intepo - in: Grosso de Saber Nada

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